Ícaro A minha Dor, vesti-a de brocado, Fi-la cantar um choro em melopeia, Ergui-lhe um trono de oiro imaculado, Ajoelhei de mãos postas e adorei-a. Por longo tempo, assim fiquei prostrado, Moendo os joelhos sobre lodo e areia. E as multidões desceram do povoado, Que a minha dor cantava de sereia... Depois, ruflaram alto asas de agoiro! Um silêncio gelou em derredor... E eu levantei a face, a tremer todo: Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro! E, misérrima e nua, a minha Dor Ajoelhara a meu lado sobre o lodo. José Régio